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RENATO ZUPO

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Mandela

ENTRETANTO

Nelson Mandela passou mais de vinte anos preso. Foi solto ao completar setenta anos de idade e, ainda assim, teve vida longa fora das grades, foi o primeiro presidente negro da África do Sul, derrubou o apartheid – regra racial que excluía a maioria negra de conviver com brancos naquele país. O último lugar do mundo em que isso ainda ocorria. Morreu após um Nobel da paz e uma vida plena de sucesso em que angariou muitos admiradores. Tantos, que poucos se recordam porque foi preso e passou tanto tempo atrás das grades. Mandela pertencia a uma facção apolítica dissidente, um grupo terrorista negro que soltava bombas e praticava crimes em nome da igualdade racial sul africana. Há inúmeros cadáveres no seu passado, gente dele e inimigos que matou. Ninguém nunca fala disso. Não que o considere um monstro porque o fez. Amigo, ainda que você seja um bandido sanguinário, vinte anos de cadeia (acredite-me) é tempo mais que suficiente para que sejam purgados todos os seus pecados. O que me deixa escandalizado é como a imprensa apaga a história e não temos memória para buscar, no passado próximo, a verdadeira origem de nossa sociedade e de nossos ídolos.

Dorothy Strang.
Com a freira Dorothy Strang se deu a mesma coisa. Para quem não se lembra, foi aquela religiosa assassinada no norte do país por seringueiros. A anistia internacional veio aqui bradar por ela – porque o fenômeno do esquecimento não é somente brasileiro, o mundo todo escolhe seus preferidos, apaga-lhes os erros e aponta-lhes somente os acertos, e que se dane a integral verdade. Pois Dorothy era estelionatária e grileira, várias vezes condenada por isso. Veio para cá numa destas pastorais da terra, como freira, mas ficou ficar no país ganhando um dinheirinho enquanto colocava pobres retirantes que conquistava para ocuparem terras de fazendeiros, e depois cobrava para tirá-los de lá. Ou exigia indenização. Ou chamava a polícia e mostrava o crucifixo. Nas imensidões dos sertões de norte e nordeste é comum a existência de terras sem dono, o que vitimiza e mata gente pra todo lado. O sujeito chega, olha no cartório e compra imóvel regular e abandonado. Muda no dia seguinte e encontra grileiros morando no local – na verdade recém empossados já pra extorquir – e exigindo dinheiro pra sair. Piauí e Maranhão tem muito disso, e a nossa queridíssima freirinha mártir envolvia-se na tramóia. Se acho correto que tenha sido assassinada? Claro que não. Mas quero a verdade pra mim e pros meus filhos quando acesso os órgãos e veículos de informação.

Perguntas difíceis.
Por que no Brasil cometer crimes é tão fácil? Por que não investimos em ferrovias, como todos os países do mundo? Por que emprestamos dinheiro público para multinacionais? Por que, sendo ainda pobres, mandamos dinheiro para Cuba, Haiti e Venezuela? Por que nossos jovens estão cada vez menos cultos, apesar de mais bem informados? Por que as pessoas estão parando de ler jornais e só prestam atenções às manchetes? Por falar nisso, você sabia que há quem não saiba o que é uma “manchete”? Por que não temos educação em tempo integral? Por que ouvimos dizer que as cadeias brasileiras são infernos que só criam monstros, e não investimos mais em cadeias melhores? E por falar nisso, por que também não investimos mais em escolas e professores? Por que a mulher brasileira avançou no tempo para trabalhar, mas permanece pré-histórica para amar? Por que ainda acreditamos em final feliz?

Ah, o parlamento…
O Congresso Nacional representa todos os credos, cores e setores do povo brasileiro. Há por lá índios, negros, brancos, gays e heteros, gordos e magros. Tem que ser assim, porque representam um povo multifacetado e repleto de peculiaridades, regionalismos, neste país continental erigido sobre intensas desigualdades de todos os tipos. A existência de nichos, que permeia a sociedade, é claro que também se faz representar em nosso parlamento, e seus membros deviam dar exemplo de respeito para com as desigualdades, ao invés de tentar ridicularizar quem pensa diferente, impor sua opinião no berro, rotularem opositores. Na verdade, como o nosso povo é muitissimo sem educação, o político eleito não é diferente. Porque o político – sempre digo isso – é o povo no poder. Se não somos santos, é claro que não teremos políticos santos. Se gostamos do jeitinho e da malandragem, não dá pra achar que o sujeito eleito, no poder e que sempre foi assim, vai mudar só porque tomou posse em Brasília, não é mesmo? Muito antes pelo contrário. É lamentável assistir parlamentares brigando, xingando, cuspindo, dando um péssimo exemplo para a nação brasileira. Seja por qual motivo for. E que as minorias parem de se vitimizar, também no congresso. O que mais vejo é feminista chorando, mas dando vassourada em machão. O que mais assisto é gay falando grosso e cuspindo em hetero. Negro com mais, muito mais, direitos do que brancos. Pobre com acesso a um monte de serviço estatal que branco tem que pagar, isso quando tem a disposição. Que seja certo e se faça, por causa daquela história toda de herança histórica, abismos culturais, ações positivas contra o preconceito… Enfim, aquela lenga lenga de palestra de auto-ajuda ministrada por sociólogo formado por correspondência e com voz de GPS. Mas sem lamentos. O Brasil está cada vez mais igual para todos.

 

O dito pelo não dito.
“De tanto ver cresce a injustiça, de tanto ver agigantar-se o poder nas mãos dos maus, o homem chega a rir-se da honra, desanimar-se de justiça e ter vergonha de ser honesto.” (Rui Barbosa, gênio, “Oração aos Moços”).

 

Renato Zupo,
Magistrado e Escritor

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