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RENATO ZUPO

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Conhecendo o inimigo

ENTRETANTO

A maior das ignorâncias é o medo do pensamento divergente. Acho absurdo que proíbam no Brasil ou em qualquer outro país a reedição da biografia de Adolf Hitler, \”Mein Kampf\”. Assim, nós é que agimos como nazistas que, por exemplo, na década de 1930 queimavam em praça pública livros que não enaltecessem a supremacia racial ariana, que era a pedra fundamental do nacional socialismo alemão. O psicanalista e gênio austríaco, Sigmund Freud, já então bem idoso, assistia das ruas a queima de seus livros e comentava, ironicamente: \”Como a humanidade evoluiu. Antigamente queimavam os autores, hoje só queimam as obras.\” A observação era oportuna, mas Freud se enganaria mais adiante, quando Hitler passou a mandar para a câmara de gás também os judeus, filósofos, negros, homossexuais e escritores que não aderissem ao seu regime totalitário de governo. Ou seja, o velho Adolf queimou os livros e os autores. Por toda sua brutalidade genial e corrompida, Hitler já seria um personagem curioso e digno de ser retratado em biografias, até para que possamos conhecer o inimigo, sabermos como pensava, para que evitemos novos acidentes históricos tão trágicos quanto foi sua ascensão ao poder.

Patrulha Canina.
Estudei direito no amplo e maravilhoso campus da PUC em BH. Lá, além do inevitável bar e das inúmeras lanchonetes que funcionavam como ponto de encontro e de namoro de calouros e veteranos, também havia uma livraria vinculada ao DCE da Universidade Católica. Como aficcionado por livros, claro que gastava um troquinho lá de vez em quando, e numa dessas incursões pela livraria me deparei com um exemplar antigo e semi-pirata do Mein Kampf traduzido para o português lusitano. Comprei-o imediatamente ciente da raridade do exemplar, e ao fazê-lo fui hostilizado por um ou dois acadêmicos que se encontravam na livraria, além do próprio gerente que me fez cara feia – como se estivesse identificando uma avis rara de \”direita\” nos meandros estudantis sempre preponderantemente ligados aos pensamentos socialistas. Claro que todo jovem geralmente é de esquerda, porque é rebelde e porque não entende o mundo que se descortina ao seu redor e que lhe dá medo. Até aí tudo bem. Jovens só não podem ser intolerantes – aí é que mora o perigo. Quando condenamos alguém porque edita, escreve ou lê um livro, agimos como os piores inimigos que execramos. Aí me lembro de outro alemão famoso, Nietsche, que recomendava tomássemos cuidado ao lidar com monstros, para que não nos transformássemos também em monstro. Age como um animal quem rotula e patrulha aos que pensam diferente, como membro da \”patrulha canina\”, desenho preferido de meu filho caçula.

Perseguição ideológica.
Não é só a biografia de Hitler que sofre influências do famigerado \”politicamente correto\”, para mim tese criada por jornalistas sem cultura, acadêmicos acovardados com a própria ignorância e políticos de esquerda que ganham votos ao fomentar a burrice de seus eleitores. Isso também prolifera no mundo artístico. Jogaram pedras na obra de Monteiro Lobato, um dos nossos magistrais escritores e talvez o único escritor brasileiro a alcançar o nível de excelência internacional em literatura infantil. Disseram-no racista, por criar personagens como Tio Barnabé e Tia Anastácia, negros servis saídos da senzala para ajudar Dona Benta a criar os netos Narizinho e Pedrinho e a boneca Emília. Esqueceram que Lobato retratava uma época que não inventou, e que seus comentários sobre os personagens negros de suas tramas eram sempre carinhosos e repletos de ternura – mas para que ser justo, não é mesmo? Basta ofender. O pior dos crimes dessa corja foi se aproveitar do ingresso do personagem Sherlock Holmes no domínio público. O mais famoso detetive da ficção policial mundial e obra do genial escocês Sir Arthur Conan Doyle passou, então, a ser editado e traduzido livremente e ao bel prazer das questionáveis conveniências do mercado e das ideologias de momento. Deu-se que suprimiram de seus romances e contos a drogadição de Sherlock, seu vício por cocaína e opiáceos. Vícios lamentáveis, mas que fazem parte do personagem, dilacerado agora pelos que o reeditaram. Polir e lapidar personagens e obras de autores consagrados é crime de lesa pátria cultural e deveria dar cadeia. É como impedir que Peter Pan voe para não influenciar crianças a pularem da janela. É como retirar do Dom Casmurro a traição velada de Capitu, sua esposa, para o bem da imagem feminina moderna. Pura idiotice que legamos aos leitores do futuro.

 

Renato Zupo,
Magistrado e Escritor

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