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RENATO ZUPO

Magistrado • Escritor • Palestrante

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Cliques do mal

ENTRETANTO

O longo sofrimento de Neymar é causado por sua insensatez juvenil e pelo azar de se relacionar com uma psicopata. Em um país com leis penais menos panfletárias e mais eficientes a moça estaria presa desde que começou a forjar acusações e chantagear o craque. Absurdo é que 40% da população manifeste alguma suspeita de que Neymar de fato seja um estuprador. Ao menos, é o que dizem as pesquisas, e se é que é possível nelas confiar. Essas manifestações tresloucadas de opinião não ocorrem somente porque a internet é aquele baixo meretrício virtual repleto de acéfalos ociosos que todos conhecemos. Por trás desses cliques do mal há racistas frustrados com o sucesso de um jovem negro, há preconceito de gênero e há aqueles que simplesmente buscam trinta segundos de fama, que é a média do tempo de acesso aos endereços eletrônicos e mensagens de aplicativos.

Neymar e Maradona.
As gafes de Neymar me lembram, muito, Diego Maradona e suas desventuras também escandalosas. O drama de Don Diego com drogas e porrada, aliás, para muitos supera o do craque brasileiro sempre imerso em polêmicas relacionadas com seu comportamento dentro e fora de campo Em seu auge futebolístico, Maradona batia em repórteres e namoradas, agredia torcedores e passava longos períodos internados em clínicas para tratar de sua dependência química invencível. No entanto, todos pegam leve com ele e ridicularizam Neymar –por que? Bem, Don Diego comeu a bola, é o maior do mundo depois de Pelé e conquistou uma Copa do Mundo sozinho para seu país. Ele é uma religião argentina, não somente um craque. Seus erros na verdade o aproximam de sua gente, porque o tornam mais humano aos olhos da multidão que o idolatra. Neymar, porém, é um craque que ainda precisa demonstrar com títulos os milhões que custa, e se afasta de suas origens. É um astro desde a pré-adolescência, criou um personagem artificial de si mesmo, perdeu a identidade cultural e – pode-se dizer – não é mais um brasileiro. É um cidadão do mundo. Diego Armando Maradona nunca deixou de ser argentino.

Sérgio Moro – história em movimento.
O seriado “O Mecanismo”, exibido na Netflix, retrata a Lava Jato e um de seus personagens é livremente inspirado no Ministro e Juiz Sérgio Moro. Quem trabalha com ficção e literatura sabe que é muito arriscado retratar momentos históricos que não terminaram, personagens que ainda vivem e permanecem protagonizando a maior de todas as sagas, que é a surpreendente vida real. José Padilha, o criador da série, já assumiu seu erro: nos primeiros episódios, o estereótipo de Moro é um herói, um juiz destemido e imparcial. Já na segunda temporada, amparada pelo coro de “Lula Livre”, se começa a questionar a atuação do magistrado e do Ministério Público. Isso é que dá não esperar os fatos acontecerem para retratá-los, eterno problema inescapável para jornalistas, mas que pode e deve ser evitado por escritores e diretores de cinema. Moro agora se vê imiscuído no escândalo da troca de mensagens com procuradores da Operação Lava Jato e bem pode se tornar o vilão da série em uma próxima terceira temporada do “Mecanismo”, vilão que ele não é de jeito nenhum na vida real.

O Bruxo do Cosme Velho.
Machado de Assis faria 180 anos se vivo estivesse. De certa maneira está, mais ainda no Fliaraxá deste ano, maior evento literário brasileiro da atualidade, um prêmio que meu amigo Afonso Borges, curador e criador do festival, dá ao país, às Minas Gerais e, em especial, a Araxá, berço dessa festa cultural. Machado é o tema do Fli 2019 e é nosso maior escritor, idolatrado mundo afora. Chamado de Bruxo do Cosme Velho, bairro em que morava no Rio de Janeiro de sua época, devia o apelido à riqueza mágica de suas tramas e à sua prosa mordaz. Escrevia com “a pena da galhofa”, como ele mesmo dizia. Machado não teve filhos, e por isso mencionava através de seu personagem Brás Cubas que “não transmitiu a nenhum ser vivo o legado de nossa miséria”. No entanto, no festival todos seremos um pouco filhos dele, orgulhosos desse brasileiro genial, precursor da arte de pensar o país.

O dito pelo não dito.
A lua que a bela Sofia recusou fitar comigo está assaz alta para distinguir entre os risos e as lágrimas dos homens.” (Machado de Assis, escritor brasileiro, em “Quincas Borba”).

 

Renato Zupo
Magistrado e Escritor

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