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RENATO ZUPO
RENATO ZUPO

Magistrado • Escritor • Palestrante

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kit covid

Passarinho em cima do muro

ENTRETANTO

Um coronelzão do sertão, desses sertões mineiros pelos quais passei ao longo da carreira, se incomodava com minha imparcialidade política e vaticinava: “Doutor, cuidado, passarinho em cima do muro toma chumbo dos dois lados”. Ele estava certo. Eu disse por aqui que tratamento preventivo e tratamento precoce são conceitos científicos distintos e que, em qualquer caso, se deve antes buscar acompanhamento médico. Como não defendi e nem ataquei o Kit Covid, os dois lados ficaram pesarosos. Provoquei iras de gregos e troianos, à esquerda e à direita: os que defendem a cloroquina e seus correlatos me acharam evasivo demais, porque deveria me filiar à sua idolatria por automedicação e autoajuda. Os que abominam a cloroquina e a ivermectina porque veem nela a cara do presidente entenderam que defendo uns e outros nas entrelinhas, e também partiram pra pancada. Querem que seja mais claro? Se o objetivo do Entretanto fosse contar a história da minha vida, eu diria que tomo o Kit Covid sim, preventivamente, mas receitado por médico. Porém, como aqui o que se busca é demonstrar a visão jurídica dos fatos políticos de maneira direta e descontraída, pouco importa o medicamento que tomo – é ou não é?

CPI Covid.
Não é hora de procurar vilões, sejam corruptos, governadores e prefeitos inoperantes, ou presidente omisso ou ativo até demais. Mesmo chineses, não é hora de brigar com eles. CPI Covid, defendida por Bolsonaro, é uma insensatez. O Brasil vulgarizou CPIs e Impeachments, como outrora prostituímos golpes de estado, militares ou não. Até 1964 tivemos diversas quarteladas e viradas de mesa ao longo da República, incluindo a que a originou, depondo Dom Pedro II e dando posse ao Marechal Deodoro da Fonseca como primeiro presidente brasileiro. De 1989 pra cá tivemos centenas de CPIs e três processos de impeachment, dois deles bem sucedidos (ou mal sucedidos, conforme o ângulo político). Assim, passamos ao mundo uma imagem de republiqueta de bananas. É vergonhoso e não é hora de política, é hora de salvar vidas, de vacinar rápido, de manter o distanciamento social, mas de incentivar a recuperação econômica. Todo o resto deve ficar pra depois.

Caso Henry.
Sempre me perguntam “o que acho” quando aparece algum crime misterioso na TV. Foi assim com o casal Nardoni, com o caso Suzane e mais recentemente Mariele Franco. Agora é o caso Henry, enteado de vereador carioca suspeito de matar a pancadas o filho da esposa. Curioso que essa última também esteja presa, como se fosse conivente com as agressões impingidas ao filho no âmbito doméstico. Em todos estes crimes estranhos e misteriosos, muitos me pedem a opinião do jurista e juiz com mais de vinte anos de experiência em processos criminais e homicídios. Outros pedem, mesmo, a opinião do escritor de romances de mistério que também sou. Já conversei com a colega escritora Ilana Casoy sobre as indagações em torno destes crimes horrorosos, brutais e ainda assim misteriosos. São crimes em que muitas vezes o enigmático não é quem matou, mas porque matou ou como o fez. De todo o jeito, é muito leviano dar opiniões sem conhecer os autos do inquérito, as investigações, o processo. No caso Mariele, senti vestígios de crime de ódio, não necessariamente político. No caso Henry, pressinto loucura. Mas, louca ou normal, qualquer pessoa que agrida brutalmente a uma criança indefesa é um covarde que merece mesmo cadeia.

Perderam a noção.
Meu amigo 39 é negro ou afrodescendente, como queiram. Outro dia conversei com ele sobre as concepções modernas do que seriam comentários racistas no futebol, nas ruas e, agora, no BBB, onde um cidadão está sendo processado por racismo porque falou do cabelo do outro “Brother”. Não assisto a essa papagaiada, mas quando o assunto nascido ali resvala no mundo jurídico, é minha obrigação assuntar. E aí me lembrei do 39 e do que ele me respondeu sobre o excesso de cuidados com os novos limites do racismo impostos pelo politicamente correto: “Doutor, isso é conversa de gente que tem tempo sobrando, que não tem que pegar dois ônibus lotados pra trabalhar, que não tem que levantar de madrugada e tomar café requentado com pão dormido pra sair e ganhar o outro pão, o de cada dia. Isso é frescura.” Concordo com ele.

O STF e os cultos.
Urgente é reabrir escolas – o Ministro Kássio decepciona quando parte para o enfrentamento ideológico e teológico e manda reabrir igrejas durante a pandemia. E nos obriga a ficarmos todos com Gilmar Mendes, nem sempre o melhor conselheiro, muito embora tecnicamente irreprovável. O novato do STF deve se perguntar por que padres, freiras e o papa não estão querendo reabrir igrejas ou cultos católicos no vaticano, porque espíritas e umbandistas não lutam pela abertura de centros e terreiros de candomblé, e porque em sentido contrário pastores e bispos pentecostais buscam reabrir seus templos protestantes. A resposta é que nestes últimos locais há cobrança de dízimo, indispensável para a manutenção das igrejas evangélicas. A discussão aqui não é religiosa, é econômica e é jurídica e é neste âmbito que deve ser solucionada, não invocando liberdade religiosa, mesmo porque também há dízimo católico.

O dito pelo não dito.
Não adianta olhar para o céu com muita fé e pouca luta”. (Gabriel, o pensador, cantor e compositor brasileiro).

 

Renato Zupo
Magistrado e Escritor

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