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RENATO ZUPO

Magistrado • Escritor • Palestrante

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Os jovens

ENTRETANTO

Meu pai era dos poucos idosos que conheci que não tinham preconceito com a juventude. Muito ao contrário de gente madura e da terceira idade que torce o nariz e critica a inexperiência daqueles que nasceram depois, meu velho adorava tudo que era jovem e novo, muito embora não dominasse algumas temáticas e tecnologias próprias da moçada. Não cansava de aplaudir os esforços imberbes daqueles que o cercavam, ufanava sempre que possível o nascimento de novas ideologias, ritmos, esperanças. Tinha ojeriza a tudo que era passado e morto, muito embora nutrisse saudosismo pelos bons momentos de outrora. É claro que esse comportamento é bem diverso do que normalmente se encontra por aí: os jovens sofrem pelo primeiro emprego, padecem para conquistar a confiança de chefes, superiores hierárquicos, e até sogros. Ouvem sempre que ainda vão aprender e que seus erros são fruto da falta de conhecimento, como se juventude e burrice fossem sinônimos! Claro o preconceito ainda mais presente na sociedade moderna. No entanto, a juventude brasileira permanece com um defeito grave que é dela e só dela, e que consiste no fato de criticar sistemas e governos e ideias que não entende. Até para se desconstruir o que está errado, primeiro é imprescindível compreender o sistema em que o erro se encontra inserido.

Preconceito.
Preconceito os há de todas as espécies, e não somente em detrimento dos jovens. Do racial nem se fala, é tão imbecil que não merece maiores comentários. Cientificamente já se demonstrou que a única raça que existe é a humana e a concentração de melanina epidérmica que define o tom da pele não tem qualquer influência sobre o caráter ou a educação das pessoas. Mas há outros preconceitos acirrados e imiscuídos no pensar coletivo social que pouco detectamos e quase nunca evitamos. Primeiro é necessário definir o que é e não é preconceito, e aí vamos resolver tudo na etimologia, na raiz da palavra. O preconceito é um conceito prévio, sem o necessário conhecimento. Se conhecemos alguém ou algo e sabemos que é ruim, não é preconceito, mas conceito, e faz parte de nossas defesas sociais manter reservas morais e mesmo distância de tudo aquilo (ou aquele) que pode nos trazer algum malefício. Do contrário, embasarmos nossos receios em cor de pele, sotaque, idioma, procedência geográfica, traduz uma conduta quase criminosa.

Paulistas x cariocas.
Falava eu de preconceito por procedência geográfica e me lembrei das eternas diferenças que aguçam rivalidades entre cariocas e paulistas e mesmo entre cariocas e mineiros. Não falo do povo fluminense. O estado do Rio de Janeiro é tão insignificante em tamanho e tão dominado por sua capital mundialmente lançadora de tendências que o restante daquela unidade federativa ganha aspecto de um emaranhado periférico de satélites. Os cariocas, obviamente da capital, é que são visados e com os paulistas a coisa é mais escancarada: uma amiga paulistana diz que é porque em Sampa se gosta de trabalhar e no Rio não. Já os cariocas afirmam peremptoriamente que seus vizinhos mais ao sul só sabem trabalhar. Preconceito é por aí.

Mineiros x cariocas.
Mineiros não gostam de cariocas e confesso que não entendo a origem disso, porque a recíproca não é verdadeira. Lá no Rio eles acham que somos aqui em Minas todos uns bobos capiaus e matutos, mas nos tratam com deferência e simpatia, quase como se tivéssemos carta branca para ir e vir por Copacabana sem sermos passados para trás. Não pagamos na mesma moeda aqui nas Alterosas. Consideramos (olha o preconceito) os cariocas malandros e estelionatários em potencial, metidos e com um sotaque irritante. Aliás, quando era advogado tive um cliente que foi preso e mantido preso por algum tempo só porque era carioca, acreditem se quiser! Ele era guia turístico, veio do Leblon com turistas em caravana para conhecer nossas cidades históricas. Na parada em Belo Horizonte o ônibus de excursão atrasou e a camiseta que era o “abadá” convite não chegava. Alguém chamou a polícia e o pobre coitado foi preso. Com o delegado não teve nem conversa: “Doutor, seu cliente é do Rio, se solto ele some”, foi o veredicto da autoridade policial. Estranho foi ouvir comentário bem semelhante do juiz que recebeu meu pedido de Habeas Corpus. Quando finalmente liberto, dele ouvi com alguma tristeza que jamais voltaria a por os pés em Minas, que aqui fora maltratado para nunca mais voltar. Parece que nós mineiros só não somos hospitaleiros com quem vem do Rio.

 

Renato Zupo,
Magistrado e Escritor

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