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RENATO ZUPO
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TERRIVELMENTE EVANGÉLICO

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Bem, ou Bolsonaro nada sabe de adjetivos e precisa estuda-los, ou é um gênio neologista da língua e de fato acertou na mosca e na expressão que utilizou para se referir ao perfil preferido de futuro Ministro do STF: alguém, segundo ele, “terrivelmente evangélico”. Vamos supor que a segunda hipótese esteja mais perto da realidade. O problema é o “terrivelmente” – qualidade que impacta pelos diversos sentidos que possui. Você pode estar com uma terrível dor de cabeça, ou terrivelmente apaixonado.

Bem, os evangélicos brasileiros não são mais protestantes em seu sentido clássico criado por Martinho Lutero. Vieram da Reforma calvinista, assim como descendemos dos portugueses, o que não quer dizer que sejamos idênticos aos lusitanos em nossa cultura ou idioma e até hoje. Com honrosas exceções, é sem dúvida impossível igualar os evangélicos brasileiros aos protestantes originais. Lutero cunhou uma igreja racional, pragmática e dedicada a secularizar a fé cristã, adequando-a ao iluminismo e aos ideais racionais de elevação humana. Os evangélicos – tecnicamente chamados pentecostais – preferem retornar ao medievalismo católico, e se a eles repugna a ideia dos santos da igreja de Pedro, elegem “pastores”, “bispos” e “apóstolos” para conduzir seu rebanho crédulo de almas à procura de milagres e exorcismos diários.

Nem nos Estados Unidos, onde há muitos pentecostais, se proletarizou tanto a fé evangélica, inserindo-a na realidade cotidiana. O crente brasileiro ora (e não reza) para passar no vestibular, curar a gripe e não chegar atrasado ao aeroporto. O protestantismo impõe, por outro lado, que o fiel resolva pessoalmente seus problemas diários e dedique a Deus as horas de folga para prestigiá-lo com seu amor incondicional – e não para pedir favores corriqueiros. Lutero lutou contra os interesses escusos dos Papas, interessados em arrecadação de dízimos e na riqueza do clero católico. Os evangélicos/pentecostais, por sua vez, ganham fortunas explorando canais de TV e empresas de comunicação sem pagar um tostão de impostos, conforme lhes assegura a Constituição Federal. Lutero pregava a evolução humana (conceito iluminista). Os evangélicos brasileiros, em sua maioria, nem sabem o que é isso. Só leem um livro – a Bíblia. E leem mal.

Não estou criticando os evangélicos. “Crítica”, em grego, pressupõe uma “crise” – e nunca as igrejas pentecostais foram tão fortes, ajudando muito o Brasil em vários aspectos. Sem os evangélicos do Congresso Nacional estaríamos adotando orientação transexual nas escolas infantis. Teríamos legalizado a maconha e criado cotas universitárias para cubanos e filhos de sindicalistas. Portanto, devemos nossas tradições morais ainda sólidas a homens públicos como Edir Macedo, Marco Feliciano e Silas Malafaia, e ainda bem que eles existem. Mas os evangélicos também são importantes diante da inoperância estatal em cuidar dos desvalidos, dependentes químicos, alcoólatras. Sem os programas sociais dirigidos por pastores e bispos pentecostais, as nossas periferias cairiam de vez no tráfico endêmico e nossas ruas seriam tomadas por uma guerra civil protagonizada por drogados e bêbados violentos que nossas leis irrisórias jamais conseguiram conter com eficiência.

Por fim, a luta cristã hoje é toda ela levada a cabo pelos evangélicos, dado o apostolado católico defasado e desanimado. Os sacerdotes católicos só se uniram para pregar práticas comunistas durante a “Teologia da Libertação” e depois se recolheram de vez às sacristias e seminários. Se de vez em quando aparece um sujeito genial como o Papa Francisco, também surgem com regularidade maior padres cantores e freis socialistas pregando o preconceito político. Hoje a fé cristã depende dos evangélicos para não sucumbir ao Islã ou ao ateísmo e para preservar valores religiosos tradicionais que a nossa sociedade, em sua maioria, ainda possui – não importa o que digam em contrário novelas e minisséries da TV Globo.

Bem. Agora você já entendeu o que é ser “terrivelmente evangélico”. Acho que Bolsonaro, ao usar a expressão, pegou-a emprestada da Ministra Damares, aquela do azul pra meninos e do rosa pra meninas. Não sei por que, mas ainda prefiro a delimitação de cores ao esperneio libertário abrupto e estridente. Portanto, fiquemos com o mal menor. Terrivelmente menor.

Renato Zupo
Magistrado e Escritor

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