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RENATO ZUPO

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vip tem superpoderes

Superpoderes

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Amigo meu diz que tenho um superpoder idêntico ao dos heróis das histórias em quadrinhos: consiste em atrair chatos. E é impressionante. Em um bar lotado, se aparecer um bêbado daqueles bem constrangedores e incômodos, driblará um monte de gente e virá direto ao meu encontro. Desconhecidos inconvenientes nas ruas vêm imediatamente na minha direção, geralmente para entabular conversas desnecessárias e maçantes. Se tenho algum colega de trabalho chato, ou sou prevenido de que determinada pessoa é chata e poderá vir a me causar transtorno, a coisa toda não funciona como alerta, mas vaticínio, adivinhação. Com cem por cento de acerto a pessoa temida, de fato, me causará problemas. Já procurei diagnosticar as causas disso. Minha proverbial acessibilidade (converso com todo mundo), minha aparência tranqüila ou meu jeito de “paz e amor”, isso deve ajudar bastante a me manter alvo dessa gente incômoda que, na verdade, não possui qualquer defeito grave a não ser, é claro, o fato de sua chatice.

Ser chato.
Guilherme Figueiredo foi um escritor especialista em crônicas de costumes em meados do século passado. Uma espécie de antecessor do cracue Luiz Fernando Veríssimo. E escreveu o “Tratado Geral dos Chatos”, tentando identificá-los. Há, mesmo, diversos tipos de chatos, dos mais inofensivos àqueles perigosos. Os sabe-tudo, que conhecem e resolvem os problemas do mundo em papos de botequim. Os puxa-sacos, tão evidentes em sua canastrice e bajulação que o próprio bajulado foge léguas dele. O chato mitômano, ou mentiroso de carteirinha, que falseia por hábito os fatos mais banais do cotidiano O chato arroz-de-festa, que está em todas as colunas sociais, aparece em todas as festas e eventos, circula ruidosamente pelas multidões e convidados conversando abobrinhas e tentando, sem êxito, ser admitido nesta ou naquela rodinha, neste ou naquele grupo, inexoravelmente repelindo a todos com sua conversinha enjoada.

Os esquecidos.
Lembrar de Guilherme Figueiredo e, depois, de Luiz Fernando Veríssimo, me rememora um monte de grandes autores que tivemos no século passado e que foram injustamente esquecidos pelas editoras, leitores, mídia. Mereciam ser reeditados com maior freqüência. Quem tem mais de quarenta anos haverá de lembrar deles, porque acompanharam nossa juventude e vida adulta, viraram tema de filmes e novelas, mas o tempo soterrou sua fama. A crítica nunca os considerou fora de série e acabou considerando sua obra “datada” – hoje fora de moda e inviável comercialmente. Refiro-me a caras como o próprio Figueiredo (citado), e o pai de Luiz Fernando Veríssimo, o grande Érico, para mim tão bom quanto Jorge Amado. Mas há muitos mais. Querem ver? Quem não se lembra de José Mauro de Vasconcelos, sertanista e escritor, que publicou “Meu pé de Laranja Lima”, best seller em várias línguas, novela de TV, etc…? Hoje esquecido, por esta e outras dezenas de maravilhosas obras. E o poeta JG de Araújo Jorge? Era o preferido das moçoilas e donas de casa da década de 1970, com uma produção romântica popular intensa de livretos em bancas de jornais e livrarias de todo o país. Um campeão de popularidade de seu tempo! E há os escritores “cabeça”: Oswaldo França Júnior, Ignácio de Loyola Brandão, Carlos Heitor Cony, caras que mereciam uma revisitação editorial caprichada e que o mercado, esse cruel juiz do destino das obras e dos homens, sepultou imerecidamente. De alguns escritores internacionais, então, ninguém mais fala: J.M.Simmel, Morris West, Hardold Robbins… Morreram, mas a obra permanece viva, pulsante, brilhante… e sem reedições a altura. Com isso perde o público, porque boa literatura não tem idade, não fica fora de moda, não perde nunca o poder de encantar o leitor.

Mercado Editorial.
É curioso o mercado editorial brasileiro. Já falei disso aqui. Até o ano passado nunca se venderam tantos livros no Brasil. Mas, curiosamente, nunca se leu tão pouco. Fecharam muitas livrarias, a cultura de nossos jovens está cada vez mais estagnada e aprisionada em redes sociais e informações instantâneas que não traduzem profundidade ou conhecimento algum. Como explicar a este estranho fenômeno? Parece que se compram livros para enfeitar estantes ou para presentear de última hora quem não haverá jamais de lê-los. E o que mais tem vendido é realidade, autoajuda, biografia, documentário. Perderam-se os leitores da ficção e dos romances, diante da crua realidade da vida moderna.

 

O dito pelo não dito.
“A obra clássica é um livro que todo mundo admira, mas que ninguém lê.” (Ernest Hemingway, escritor americano).

 

Renato Zupo,
Magistrado e Escritor

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