Acabou a novela. Vimos Dilma Roussef ser imolada. Foi vítima de seus próprios erros e não de conspirações, golpes ou preconceito. O Brasil estava preparado, sim, para ter uma mulher como Presidente da República, e há muitas delas capazes, que poderiam ter assumido o mais alto cargo da nação com muito mais competência e sucesso do que a Presidente cassada.
Então, não foi preconceito. O remédio constitucional para a destituição do presidente da república foi utilizado conforme manda nossa Lei Maior, o rito foi determinado pelo STF, que através de um de seus mais notáveis membros presidiu o julgamento histórico da cassação de Dilma. Muita gente irresponsável e sem nenhum compromisso com a estabilidade econômica e a paz social do país disse de uma pretensa anormalidade democrática, acusou a existência de um golpe de estado parlamentar, mas o que se viu nesses cento e alguns dias de afastamento da Presidente, antes de sua definitiva cassação, foi uma normalidade institucional acima de qualquer suspeita. Quem quis se manifestar se manifestou, quem quis fala falou. O debate foi franco e a imprensa foi e é livre, e este ou aquele grupo midiático se posicionou pró ou contra o impeachment como é comum ocorrer em qualquer democracia saudável do mundo.
Portanto, também não foi golpe, tampouco se atentou contra o estado democrático de Direito. Resta o quê? Perseguição política? Ora, o PT foi o mais poderoso partido do país por doze anos! Nunca ouvi dizer de perseguição a quem está no topo e é mais forte. Posso considerar facilmente o argumento de que a pessoa ou partido de maior projeção é mais visado, tem seus méritos e erros mais evidenciados. Mais aí o truque é um só: velar pela conduta e errar menos. É o que fazemos todos nós quando alcançamos uma determinada fase da vida em que descobrimos que podemos perder muito mais do que ganhar quando arriscamos, e que aqueles famosos cinco minutos de bobeira que passam pela vida da gente, a partir de um certo ponto de nossa trajetória devem ser ignorados porque há muitos que dependem de nós.
E Dilma tinha nos ombros mais de duzentos milhões de brasileiros, a quem prometeu respeitar e servir. Não fez nenhuma coisa e nem outra. Pensou em eleições o tempo todo. Viveu como a sombra de Lula e quando achou que tinha personalidade própria e tentou a reeleição descobriu que sempre foi um anão de jardim, um ventilador quebrado, alguém sem carisma e características capazes de atrair apelo popular, sem talento para resolver os problemas da sociedade. Porque Dilma Vanna Roussef é igual a muitos tecnólogos, engomadinhos, chatinhos, tecnocratas e burocratas que conheço muito bem, com os quais já trabalhei ao longo das décadas de carreira e que haverão de existir sempre, não importa a evolução do Estado ou da sociedade. Dilma não é uma pessoa de ação. Existe para funcionar opaca e nos bastidores e quando calha o azar de alcançar os holofotes do ápice de sua projeção acadêmica ou profissional, não sabe o que fazer e, tentando demonstrar iniciativa, faz mal feito. Creiam-me, ela não é uma pessoa má. Como todo títere, precisa de alguém para manipulá-la. Como todo teórico, nada sabe da prática. Pode ser honesta e se vai dizer que não roubou, mas permitiu a ruína de nossa mais poderosa estatal, corrompida pelos chulos que ela ali deixou que se instalassem. Dilma defendeu Zé Dirceu e os membros da quadrilha do mensalão! Dilma fechou os olhos aos escândalos da Petrobrás enquanto não soou por demais ridículo negar os fatos claríssimos que a imprensa e a justiça desvelavam. Dilma deu casas, bolsas, vagas em faculdade, conforme prometeu em campanha, sem se preocupar com o custo de seus presentes populistas. Como aquele pai de classe média que se individa para comprar o afeto dos filhos. Como aquele empresário que depende do clima, do banco, dos juros e do governo para quitar a folha de pagamento, e bate no peito e berra que resolve sozinho seus problemas e que não precisa de ninguém. Como o falastrão de botequim que minimiza suas fraquezas e barganha seus erros com empáfia, bravateando sobre vitórias que jamais vieram e inimigos que jamais venceu.
Essa foi Dilma, e este é o seu réquiem.
Renato Zupo,
Magistrado e Escritor