Há uma fábula de Esopo que narra a história do asno que carregava relíquias, acreditando que o adoravam quando, de fato, o povo que entoava cânticos e acendia incensos por onde o tolo asno passava estava louvando na verdade a carga preciosa transportada pelo quadrúpede. Alguém reparou no que ocorreu e lhe disse: “Senhor asninho, livre-se da vaidade. As homenagens não são para você, mas sim para o que carrega nas costas.” E Esopo conclui a Fábula: o mesmo acontece com alguns asnos togados: são respeitados pela toga e poder, e não por si mesmos.
Teorias sobre Teori.
A discussão sobre a morte do Ministro Teori Zavaski acende suspeitas de que seu trágico destino tenha sido obra de algum vilão preocupado com a operação lava jato, e não um acidente fatal. A boataria não é nova, já ocorreu na década de 1960 quando o presidente americano John Kennedy foi baleado por um comunista psicopata e vieram com teorias fantasiosas sobre uma conspiração soviética. Com nossos presidentes Juscelino Kubitsheck e João Goulart também ocorreu idêntica sina. O primeiro morto em um acidente rodoviário nos anos 1970 e justamente quando voltava ao Brasil, vindo do exílio, para combater o regime militar. O segundo ainda exilado em sua estância uruguaia, vítima de um ataque cardíaco, pouco tempo antes. Ambas as mortes, segundo os teóricos da conspiração, seriam tramas dos milicos: JK teria sido alvejado e a colisão rodoviária planejada para parecer acidente, e o coração de João Goulart, o Jango, parou por força de um veneno subreptício e não por problemas cardíacos. Não acredito em nada disso. Tudo pura balela. Teori e os demais faleceram vítimas de circunstâncias óbvias e plenamente divulgadas pela imprensa. Se partiram desta para melhor em momentos chave de sua vida e da nação, trata-se de pura coincidência. Em um dos meus romances, Verdugo, há um diálogo entre o anti-herói da narrativa, um detetive aposentado, e seu jovem colega de aventuras. Na conversa, o veterano policial explica que há coincidências de toda sorte ao longo da vida e que, na imensa maioria das vezes, as coincidências são o que são e nada há de suspeito nelas.
Voto facultativo.
Quase todo mundo considera o voto obrigatório um absurdo, um atraso irracional herdado da época do Brasil Colônia e que perdeu por completo a razão de ser nos democráticos tempos atuais. Pode ser e pode não ser. O voto é, de fato, um direito, e soa estranho que um direito seja imposto e não simplesmente exercido conforme o arbítrio de seu titular. No entanto, vejamos o exemplo recente da eleição do novo presidente americano, o magnata Donald Trump, via voto facultativo. Os republicanos conservadores foram todos votar rilhando dentes, com faca na boca e sangue no olho, porque queriam mudar os oito anos de governo de esquerda, que é como se definem os adversários democratas de Hillary Clinton por lá. Já esses mesmos democratas, como todo esquerdista caviar que se preza, aproveitaram o feriado eleitoral para um passeio, para discutir a relação e tomar um chope, e pelos bares da vida ficaram. E se elegeu Trump, que não era o representante da maioria dos eleitores durante as pesquisas de intenção de voto prévias à eleição, tampouco angariou a maioria dos votos absolutos após o término do embate eletivo. Mas conquistou o percentual necessário para desbancar a adversária e eleger-se o novo signatário da Casa Branca e se tornar o homem mais poderoso do mundo. Voto facultativo também dá nisso: nem sempre o preferido vence.
Ricos e pobres.
Meu amigo médico que não gosta de se identificar e que apelidei de Dr. House me contou certa vez de um diálogo com uma paciente. A mulher era pobrezinha e trabalhava em dois empregos para dar de comer à vasta prole. Reclamava de cansaço, mas batia no peito orgulhosa, porque era a única trabalhadora regularmente empregada em sua rua de bairro pobre de periferia. Todos os seus vizinhos paupérrimos desfrutavam do ócio às custas de programas sociais, seguro desemprego e pensões, e estavam satisfeitíssimos com isso. E arrematou com uma frase de impacto: “Doutor, no Brasil é rico que gosta de trabalhar!”
O dito pelo não dito.
“Entre os eruditos, os jurisconsultos ocupam o primeiro lugar, não havendo ninguém mais vaidoso que eles. Acumulam inumeráveis leis sobre assuntos sem importância alguma, acrescentando glosa sobre glosa, parecer sobre parecer, e dando a entender que seu estudo é o mais difícil de todos. Para eles, de fato, tudo o que apresenta dificuldade é meritório.” (Erasmo de Roterdam, O Elogio da Loucura).
Renato Zupo,
Magistrado e Escritor