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RENATO ZUPO
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Explicando Baltimore

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Ainda não conheço os Estados Unidos, mas amigos meus que frequentam nossos vizinhos norte-americanos comentam que aquele é um país em que tudo funciona, uma pátria de oportunidades e de empregos, com um sistema capitalista próximo da perfeição. Por outro lado, conhecemos – nós todos – a América pela ótica do cinema e dos livros, e sabemos que por lá há guetos, crime organizado, racismo, pobreza, etc. Então, pergunto eu, como conciliar uma imagem com a outra, ambas idealizadas? Acredito que o mais incrível disso tudo é situar os EUA no mundo após o fenômeno da quebradeira em Baltimore, quando a população negra foi às ruas e quebrou e incendiou tudo por conta de um aparente desmando policial em que foi morto um jovem afrodescente. Aí, sim, a missão é ingrata. Mas vou tentar.

Um país de dois mundos.
Há uma explicação fácil para os conflitos raciais nos Estados Unidos e, como toda explicação fácil, tendente a um truísmo, a uma encruzilhada ideológica. Pode-se perfeitamente entender que o país é formado por dois mundos, dois povos e duas distintas óticas do sistema governamental norte americano. É, com efeito, muito simples dizer que os EUA são ótimos para quem é branco, heterossexual, republicano e católico ou protestante. Todo o resto, os chicanos e negros e minorias, veriam o governo americano com péssimos olhos, olhos de revolta. Mas será que é isso mesmo? Arnaldo Jabor – como o vinho, cada vez melhor com a idade – explica em escrito recente que viveu na América dos anos 1960, quando negros eram discriminados a ponto de serem segregados em ambientes públicos e transportes coletivos. Na época, havia escolas para brancos e escolas para negros, como tudo o mais daquele triste período. A cólera racial seria, então, como o famoso prato da vingança que se come gelado, guardado por décadas em um freezer histórico. Os fenômenos esporádicos de violência racial e policial, ou as duas coisas juntas, serviriam para requentar esse ódio. Pode ser, mas não é o suficiente. Os EUA efetivamente permitem que jovens de qualquer cor ou credo ganhem dinheiro e conquistem carreiras profissionais dignas, desde que se esforcem e alcancem mérito para tanto. Isso é meritocracia. Não sou, todavia, ingênuo a ponto de achar que o caminho é árduo de idêntico modo para brancos bem nascidos e negros provenientes de bairros pobres. É claro que não! O caminho mais pedregoso, a senda mais estreita, que o afrodescendente precisa trilhar para alcançar seu lugar ao sol, porém, não me parece argumento suficiente para justificar tamanha revolta social, que me desculpem Jabor e este ou aquele inteligentinho de esquerda. Para mim, o buraco é um pouco mais embaixo.

Herança histórica.
Negros vieram para as Américas como escravos e por aqui labutaram até morrer em séculos de sofrimento. Depois, libertos, permaneceram sem estudos e realizando atividades profissionais servis, degradantes e mau remuneradas, por mais outro século, pelo menos. Fica simples compreender que a evolução sócio-econômica negra no novo mundo é um fenômeno recente, praticamente da segunda grande guerra para cá. Ou seja, faz pouco mais de setenta anos que o negro atingiu seu lugar ao sol, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. Hoje temos juristas negros, presidentes afrodescendentes, grandes milionários e empresários de cor, atletas e artistas, então, nem se fala. Mas a maioria que ainda comanda o capital e os destinos dos governos, aqueles que ainda controlam as massas operárias e os sistemas econômicos do mundo, estes ainda são brancos. O que também é fácil de se explicar. Historicamente analisado, o fenômeno da ruptura do cordão umbilical da servidão não é abrupto e não ocorre em décadas. Ao contrário, é lento e gradual. Os negros vão, pouco a pouco, rompendo os grilhões de seu passado miserável, galgando degraus na pirâmide social, lutando de igual para igual no mercado de trabalho. Há que ter paciência e, por meio de ações positivas, acelerar essa esperada transformação social. Até lá, sobram fenômenos esporádicos como aquela baderna em Baltimore – obra de vândalos que usaram um conflito social para seus quinze minutos de fama. Nos Estados Unidos e no Brasil, há aproveitadores que abusam da eclosão de preconceitos e ódios antigos para desestabilizar os governos – é a isso que chamamos de anarquia.

Renato Zupo,
Magistrado e Escritor

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