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RENATO ZUPO
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Diferenças

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Fomos descobertos e colonizados na mesma época em que os Estados Unidos foram. Nossa independência, se não foi contemporânea, foi próxima. A abolição da escravatura também foi na seqüência, em termos históricos, daquela ocorrida primeiro no hemisfério norte. Ambas as democracias, a brasileira e a americana, surgiram na esteira da revolução francesa e depois se consolidaram com a revolução industrial inglesa. Então, por que hoje somos tão diferentes dos ianques, dos gringos, dos nossos irmãos do norte? Vou tentar explicar.

Sangue!
Não se pode confundir povo pacato com povo covarde. Os descobridores ingleses abriram a ferro e fogo sua colônia americana ultramarina combatendo índios, franceses e espanhóis. Os Estados Unidos se tornaram independentes da Inglaterra brigando contra os impostos altos e pegando em armas. Os escravos somente foram libertos após outra guerra, a da secessão, que jogou o norte contra o sul na terra dos gringos. Os americanos tiveram participação determinante nas duas grandes guerras do século 20, e lucraram e ficaram ricos com ambas. E o nosso Brasil? Os portugueses entraram aqui dando bugigangas para índios, amasiando-se com nativas, corrompendo tribos para que aprisionassem índios de tribos inimigas e traficando escravos. Nossa independência só veio porque refugiamos por aqui Dom João VI, escorraçado de Portugal por Napoleão Bonaparte, e depois compramos nossa desvinculação da metrópole. A abolição da escravatura veio por tratados, conchavos e, principalmente, porque quando a Rainha Isabel assinou a Lei Áurea praticamente não havia mais escravos cativos no país: ou já eram alforriados, ou eram libertos desde o nascimento, ou eram \”escravos de ganho\”: faziam bicos fora para dividir lucros com seus senhores. E a participação brasileira nas guerras? O Brasil foi pau mandado dos ingleses para massacrar paraguaios por motivos econômicos e depois foi bucha de canhão americana contra os nazistas em Monte Castelo, no finzinho da guerra. Getúlio Vargas só aceitou mandar os pracinhas para enfrentar Hitler depois de muita pressão política e popular e, mesmo assim, se esforçou para só fazê-lo quando o jogo já estava perdido de goleada pelos alemães. Entenderam, até aqui, as diferenças?

Homens.
Os padrinhos da independência americana foram homens do quilate de George Washington, Benjamin Franklin, Alexander Pope. Eram juristas, filósofos, cientistas, que se uniram para convencer as antigas colônias americanas a formar uma federação coesa e forte, através de idéias. A primeira constituição estadunidense é, por isto, até hoje a única, de preciosa e científica concisão, e privilegia a liberdade individual legando ao Estado apenas manter as regras do bem comum e viabilizar a iniciativa privada ao seu máximo. Mais que isto, os Estados Unidos jamais foram monarquia, já nasceram republicanos. Por aqui, não se sabe até hoje por quais cargas d\’água se inventou nomear Dom Pedro I \”imperador\” do Brasil, quando finalmente compramos nossa liberdade dos portugueses. Ingressamos tardiamente na república e trouxemos para ela as mazelas monárquicas de um estado europeu decrépito, afogado em dívidas, carola e atrasado, que assim era Portugal nos Séculos 17 e 18. E quem foram os artífices de nossa república? Rui Barbosa, um erudito e orador vibrante, e José Bonifácio, um articulador político maçom. Nada contra eles, fizeram o que podiam. Eram o único e parco material humano republicano que tínhamos. Nossas constituições, várias, todas prolixas, privilegiam o Estado ao indivíduo, criam regras de impossível cumprimento, esculpem uma burocracia governamental kafkiana e são todas escritas a lápis: remendadas e emendadas todo o tempo, tal como uma colcha de retalhos.

Momentos.
Os americanos também souberam aproveitar bem os momentos históricos. Montaram rapidinho nos cavalos que lhes chegaram à porta já arriados. Fizeram uma reforma agrária plena ainda dois séculos atrás. Nós nem terminamos a nossa. Ainda no Século 19 iniciaram a sua industrialização na esteira da descoberta do automóvel e da revolução industrial inglesa. Quando as grandes guerras vieram, tinham um enorme parque industrial e mão de obra qualificada para a produção de armas, para o refino de combustível e a fabricação de aviões e tanques de combate. Nós, brasileiros, só nos industrializamos em meados do Século 20 graças a Juscelino Kubitscheck e por ocasião da construção de Brasília. Éramos, até então, um país agrário e latifundiário, uma Índia. Estas são as grandes diferenças entre um e outro destes dois grandes países, similares ao menos em tamanho. Ou só em tamanho.

Renato Zupo,
Juiz de Direito e Escritor.

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